Associação Arco Maior tem por missão principal o desenvolvimento do projeto Arco Maior. Este projeto socioeducativo, que acolhe e educa jovens que abandonaram ou foram excluídos das escolas, procura criar diariamente um clima educativo favorável ao pleno desenvolvimento de cada aluno, num clima de proteção e segurança.
A realidade social e escolar de que partimos transporta responsabilidades acrescidas no acompanhamento destes jovens pois muitos deles carregam consigo histórias de vida marcadas pelo abandono, pela violência, pelo abuso e pelo insucesso escolar reiterado. Impõe-se por isso uma gestão estratégica do risco e do perigo.
Este Código de conduta assenta nos princípios da integridade, do respeito e da responsabilidade, segue a legislação de referência e tem como pressuposto que a sua aplicação quotidiana carece do compromisso e da atitude proativa de cada um dos colaboradores do Arco Maior.
O presente Código de conduta é um regulamento de aplicação obrigatória. Acima de tudo se colocará o superior interesse da criança e do jovem que é acolhido e se velará pela sua segurança e bem-estar como alavanca da sua formação e do seu desenvolvimento harmonioso.
O Código de conduta tem três partes: (i) relação com os alunos, crianças e jovens; (ii) relação com os encarregados de educação e (iii) como agir em casos de suspeita ou denúncia.
I. Relação com os alunos, crianças e jovens.
A conduta profissional dos docentes, formadores e técnicos é aferida pela qualidade da relação que mantêm com os alunos, com os encarregados de educação e com todos os outros elementos da comunidade educativa, nomeadamente com os representantes das instituições e os técnicos que apoiam e acompanham estas crianças e jovens
A primeira exigência é a do cuidado, a prática de uma ética do cuidado: a disponibilidade dos professores e dos alunos é indispensável para ativar o processo de desenvolvimento humano e o processo de ensino e de aprendizagem. Está provado que o rendimento escolar e o desenvolvimento dependem sobretudo da combinação entre a ativação de saberes e o cuidado, pelo que o primeiro objetivo a perseguir com estes alunos (que, na grande maioria dos casos, não querem estar na escola, nem aprender, nem esforçar-se) é estabelecer a ligação e conseguir, a partir dessa base, uma atitude favorável, pois nenhum esforço instrucional será bem-sucedido enquanto o aluno mantiver a atitude desligada e negativa face aos novos desafios que lhe são lançados pelos educadores e pela instituição. Cuidar da relação é, além do mais, condição de acesso aos saberes. Assim é fundamental que os docentes, formadores e técnicos do Arco Maior:
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Sejam capazes de despertar uma atitude positiva em cada crianças e jovem motivando-o e implicando-o no processo educativo e mobilizando a sua capacidade de esforço e de orientação, apoiando a progressiva reconstrução da sua vontade de erguer um novo projeto de vida;
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Sejam congruentes na sua atuação e, simultaneamente, estejam conscientes da importância de persistir nessa congruência, pois qualquer evolução no sentido referido anteriormente será lenta e gradual;
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Assumam que é mais fácil mudar uma característica ou uma prática concreta (por exemplo: ser pontual, usar linguagem apropriada, tirar o boné à mesa, respeitar os colegas…) do que toda uma atitude geral negativa e de desinteresse;
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Compreendam que é imperioso ganhar a confiança da criança e do jovem, mediante conexão, respeito, aceitação e compreensão, e que por isso se lhes pede tempo, disponibilidade, paciência e persistência;
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Assumam que os alunos vão utilizar estratégias de autodefesa (próprias do seu contexto e da experiência anterior) e que, por isso, se lhes pede a personalização do trabalho educativo, tornando-o mais desafiante e inovador;
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Se atualizem em termos da sua formação e fortaleçam a capacidade de, em colaboração com os colegas, trabalharem persistentemente com cada uma das crianças e jovens.
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Tenham uma implicação pessoal no Projeto Arco Maior e no seu modelo pedagógico, conhecendo bem os seus fundamentos as suas metodologias de ensino e aprendizagem, bem como as regras funcionamento;
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Tenham confiança em si mesmos e nas crianças e jovens, adotando um perfil de otimismo, perseverança e esperança;
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Saibam contextualizar os problemas e conflitos, envolvendo sempre as crianças e os jovens na procura de soluções para cada caso, renovando e mobilizando as suas motivações intrínsecas para o diálogo e a convivência respeitosa;
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Aprendam e saibam a manter a calma e a serenidade, a gentileza e a firmeza, pois essa é uma característica básica constitutiva do modelo pedagógico e educativo do Arco Maior;
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Partilhem problemas e dificuldades, em equipa pedagógica e junto dos coordenadores, de modo a construírem e alicerçarem a atuação de forma coordenada e comum;
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Nunca desistam de nenhuma criança e jovem.
As regras de conduta enunciadas reforçam a necessidade de, atendendo ao contexto e às particularidades e especificidades de cada um, promover uma atitude positiva com cada aluno do Arco Maior:
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conhecendo-os e respeitando as suas particularidades individuais, o que implica conhecer e acreditar no potencial de cada um e desenvolver as suas capacidades e inteligências;
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possibilitando oportunidades de aprendizagem e desenvolvimento humano a todos e a cada um dos alunos;
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mantendo um ambiente de aprendizagem seguro e protegido;
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aceitando a responsabilidade de assegurar uma educação de qualidade;
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comunicando de forma respeitosa e responsável com todos e cada um dos alunos;
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considerando, nos processos de ensino, aprendizagem e avaliação, todas as possibilidades de crescimento dos jovens, de uma forma justa e adequada;
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estando abertos a experimentar novos modelos, recursos e instrumentos pedagógicos, adequados aos grupos e a cada criança e jovem.
Assim, os docentes, os formadores e os técnicos tratam os alunos com gentileza e firmeza, com dignidade e afabilidade. Nesse sentido:
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empenham-se na promoção de um ambiente de respeito mútuo;
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comprometem-se com o uso de uma linguagem respeitadora e imparcial;
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trabalham com cada aluno com base nas suas possibilidades e potencialidades e não nas suas debilidades e falhas;
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protegem os alunos de situações de intimidação, vergonha e humilhação, o que implica que em nenhuma situação os intimidem, envergonhem ou humilhem;
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promovem e estimulam a autonomia dos alunos;
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contribuem para que a sua autoestima seja saudável, no amor que colocam n construção da relação e pela confiança nas suas potencialidades, pela aceitação do seu processo de crescimento e pelo reconhecimento do seu valor;
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preservam a “distância justa” e respeitam a privacidade em assuntos sensíveis e apenas os revelam nas situações e nos locais próprios e para o benefício dos alunos;
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evitam discutir assuntos pessoais dos alunos em situações em que essa informação possa não ser tratada de forma confidencial.
Os docentes, os formadores e os técnicos mantêm objetividade e univocidade nas suas relações com os alunos e não se imiscuem em círculos de intimidade nem se substituem aos pais (ou outros familiares) exceto quando legalmente mandatados para tal. Assim, os docentes e os formadores:
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interagem com os alunos sem demonstrar preferências e sem preconceitos;
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tomam decisões tendo em consideração o interesse dos alunos;
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não se envolvem com os alunos no domínio particular;
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não aceitam dos alunos qualquer tipo de reconhecimento material;
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não atentam contra a sua dignidade física e psíquica;
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não maltratam física ou emocionalmente os alunos;
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não abusam, seja de que forma for, utilizando a sua posição de poder.
A conduta ética de um docente, formador e técnico terá inevitável e invariavelmente impacto no seu desempenho profissional. Espera-se que:
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sejam um modelo positivo na escola e na comunidade;
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respeitem a lei e sejam um exemplo no cumprimento das obrigações civis;
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não explorem a sua condição para fins/interesses pessoais e não permitam que esses fins/interesses interfiram com as suas obrigações;
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sejam discretos e mantenham confidencialidade quando discutirem assuntos relacionados com o Arco Maior;
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tenham cuidado com o modo como se expõem e se exprimem publicamente, sobretudo quando estiverem identificados como docentes, formadores e técnicos do Arco Maior.
II. Relação com os encarregados de educação
Os docentes, os formadores e os técnicos mantêm uma relação estritamente profissional com os encarregados de educação, com destaque para aqueles cujos filhos são menores de idade.
Assim, os docentes:
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devem tratar os encarregados de educação com respeito e afabilidade, esperando ser tratados do mesmo modo;
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devem aceitar os encarregados de educação como parceiros fundamentais nos processos de educação integral dos alunos, não deixando de delimitar criteriosamente os âmbitos e os espaços de ação de cada agente educativo;
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devem ouvir a posição dos encarregados de educação quando tomam decisões que tenham impacto na educação e bem-estar dos alunos, quando menores;
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devem comunicar, em tempo útil, aos encarregados de educação questões relevantes de natureza disciplinar e/ou de aproveitamento;
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devem manter uma comunicação estritamente relacionada com os seus educandos;
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No caso de situações particularmente complexas ou de conflito, devem recorrer à ajuda/mediação dos professores coordenadores de cada polo e ao apoio semanal da Equipa Pedagógica.
III. Como agir em caso de suspeita ou denúncia
A proteção das pessoas menores de idade e das pessoas em situação de vulnerabilidade é prioritária.
O Arco Maior, não obstante trabalhar exclusivamente com crianças e jovens sinalizados como de risco e em perigo e, como tal, acompanhados pelas instituições competentes, deve, até por isso, assumir um papel de maior atenção relativamente às situações de suspeita de abuso, maus-tratos, dependências, delinquência, etc.
Devem, antes de tudo, ser respeitados princípios como a confidencialidade, a rapidez na resposta, a adequada audição da criança e do jovem (minimizando o risco de vitimização secundária), bem como a sua imediata segurança e proteção.
O Arco Maior segue o Modelo dos 4 Rs (Receive/receber; Reassure/tranquilizar; React/reagir; Record/registar)
As suspeitas e denúncias devem, em primeiro lugar, ser tratadas como suspeitas. Isso significa que o adulto deve RECEBER (RECEIVE), ouvindo aquilo que lhe é relatado, evitando colocar questões fechadas e sem fazer juízos de valor sobre aquilo que lhe é relatado. Deve procurar ter uma postura de serenidade e acolhimento face ao jovem, mas sem se comprometer individualmente com uma solução e muito menos prometer algo que não pode cumprir ou que está para além das suas capacidades, competências e atribuições.
Neste acolhimento, deve TRANQUILIZAR (REASSURE) a criança e o jovem, mas, em caso algum, pode prometer que não conta a ninguém o sucedido. A confiança que os jovens depositam nos adultos não pode, exceto naquilo que é estritamente confidencial e está regulado por lei e/ou códigos deontológicos, confundir-se com a vontade de manter em segredo aquilo que efetivamente tem de ser relatado e denunciado junto dos Coordenadores dos polos ou nas instâncias próprias.
Esse é o momento de REAGIR (REACT): é fundamental manter a confidencialidade da informação recolhida, não só para salvaguardar o jovem mas também outros envolvidos (trata-se de uma suspeita) e, como tal, é obrigatório que a mesma não seja partilhada de forma informal ou oficiosa com outros colegas, mas apenas com os Coordenadores dos polos e/ou instâncias próprias.
Esta comunicação pode, num primeiro momento, ser oral, até para agilizar o processo de comunicação, mas há obrigatoriedade de REGISTAR (RECORD). O registo deve ser minucioso relativamente aos momentos em que ocorreu a denúncia e quanto aos factos relatados na mesma, sendo realizado pelos Coordenadores do polos ou pela Coordenação-Geral do Arco Maior. O registo tem de ser encaminhado para o Coordenador-Geral do Arco Maior e Presidente da Associação Arco Maior.
Nota final
Este é um processo em aberto e dinâmico. Na sua construção colaboraram os professores, os formadores e os técnicos e os membros da Associação Arco Maior. O Arco Maior divulgará o Código de Conduta junto de todos os docentes, formadores, técnicos e demais colaboradores e criará oportunidades de capacitação e formação sobre as áreas aqui contidas, consciencializando todos sobre os valores, atitudes e procedimentos. Além disso, manterá em aberto a atualização do Código de Conduta criando instrumentos eficazes e transparentes de atuação. O Código será divulgado no sítio do Arco Maior na Internet.
Porto, fevereiro de 2020.